Acusador do Caso Evandro vira réu por calúnia contra acusados

Principal testemunha de acusação no Caso Evandro, Diógenes Caetano dos Santos se tornou réu por calúnia contra os acusados. A queixa-crime foi aceita pela juíza Marisa de Freitas, da Vara Criminal de Guaratuba, no Litoral do Estado, nesta quinta-feira (28). Assinam o documento cinco dos sete acusados de envolvimento no caso. A ação foi possível após a identificação genética do corpo de Leandro Bossi, pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).

Na decisão que acatou a queixa, a magistrada cita que “a queixa-crime preenche os requisitos indicados no Art. 41 do Código de Processo Penal, segundo o qual a denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”, diz.

Assinam a proposição: Beatriz e Celina Abagge, Airton Bardelli dos Santos, Davi dos Santos Soares e Osvaldo Marcineiro. Nela, os autores comentam que a ação não se trata de Evandro

“A culpa pelas calúnias sofridas diariamente [no Caso Evandro] recai exclusivamente sobre o Estado brasileiro, que chancelou os impropérios absurdos de Diógenes, à época, e condenou inocentes torturados”.

Desta forma, a ação de agora trata sobre o menino Leandro Bossi.

“A imputação da queixa se dará sobre as declarações de Diógenes Caetano dos Santos a respeito de Leandro Bossi e ‘aqueles 28 casos que estão sumidos’”.

No último dia 10 de junho, a Sesp confirmou que uma ossada encontrada no Paraná é do menino, que desapareceu dois meses antes de Evandro. O material genético, que estava armazenado pela Polícia Científica, foi enviado no ano passado para a Polícia Federal (PF), em Brasília. Comparado com amostras genéticas da mãe de Leandro, Paulina Bossi, a compatibilidade foi de 99,99%.

Diógenes Caetano dos Santos

De acordo com a Enciclopédia do Caso Evandro, do Projeto Humanos, Diógenes Caetano dos Santos é primo de Evandro Ramos Caetano. Ele trabalhou um ano como policial militar e dez anos como investigador da polícia civil. Cursou também Engenharia Civil na Universidade Federal do Paraná, profissão a qual passou a se dedicar no início da década 1990 em Guaratuba.

“Após o desaparecimento de Evandro, passou a fazer investigações por conta própria, obtendo informações dispersas pela cidade. Tentava repassar as informações para o Grupo Tigre, da Polícia Civil, mas em certo momento passou a ser ignorado, já que, de acordo com a delegada Leila Bertolini, suas informações mais atrapalhavam do que ajudavam”, cita a Enciclopédia.

Foi Diógenes quem apontou o suposto ritual de magia negra como causa que teria levado à morte do menino. Recentemente, porém, novos áudios comprovam a ocorrência de tortura contra os sete acusados. Todos eles receberam, de forma oficial, o perdão do Governo do Paraná.

A queixa se refere a uma entrevista concedida por Diógenes ao Portal aRede. Nela, Diógenes diz:

“Nós não vamos pactuar, a família se recusa. Nós sabemos que foram eles que mataram e não foi só o Evandro, não foi só o Leandro, eles confessaram outras crianças. Eu até…eu não quero me alongar, mas só para encerrar essa primeira pergunta: todos aqueles desaparecimentos, aqueles 28 casos que estão sumidos, do final dos anos 80, início dos anos 90, eles são casos de sumiços fora da curva, são casos diferentes”, disse.

O caso

Leandro Bossi desapareceu em 15 de Fevereiro de 1992, aos 7 anos, na cidade de Guaratuba, no Litoral do Paraná. O caso, porém, só ganhou destaque na mídia cerca dois meses depois, com o sumiço do menino Evandro Ramos Caetano, de 6. De acordo com depoimentos da época, em especial do principal acusador do Caso Evandro, Diógenes Caetano dos Santos, Leandro foi raptado durante show do cantor Moraes Moreira, na Praia Central de Guaratuba. A informação, porém, nunca foi constatada pela polícia.

Em março do ano seguinte, 1993, uma ossada com as roupas de Leandro foi encontrada. A vítima estava próxima do local em que o corpo de Evandro foi encontrado, em 6 de abril de 1992. Exames confirmaram, porém, que o corpo seria de uma menina.

O delegado responsável pela investigação de Leandro, Luiz Carlos de Oliveira, por vários anos sustentou que o corpo apontado como sendo de Evandro poderia ser, na verdade, de Leandro.

Ao longo de 30 anos, o pai de Leandro, João Bossi, foi um ativista na procura pelo filho. Ele morreu em março do ano passado. Uma das cenas finais da série ‘Caso Evandro’, da Globoplay, mostra João mostrando um terreno de Guaratuba que estaria destinado como herança para Leandro.

Defesa

O espaço está aberto para a manifestação de Diógenes Caetano dos Santos.

Departamento de Jornalismo

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