Após a invasão dos Três Poderes, manifestantes são presos e Governador do DF é afastado
No último domingo, 08 de janeiro de 2023, manifestantes invadiram os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal, em Brasília; os golpistas depredaram vidros e tomaram as dependências internas dos prédios que representam os Três Poderes da República.
Milhares de bolsonaristas, que não aceitam o resultado da eleição de 2022 e o início do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, avançaram pela Esplanada dos Ministérios por volta de 15h; um pequeno contingente de policiais formava uma barreira tentando impedir o avanço do grupo, sem sucesso.
A responsabilidade pela segurança da área é do governo do Distrito Federal, comandado por Ibaneis Rocha e o secretário de Segurança Pública era Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro; Torres está nos EUA, após a invasão, Ibaneis anunciou a demissão do secretário.
No início da madrugada desta segunda-feira, 09 de janeiro de 2023, o Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal determinou o afastamento, pelo período inicial de 90 dias, do Governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
O prédio do Supremo foi o retomado por volta das 17h; meia hora depois, a polícia retomou o Palácio do Planalto; às 18h30, o prédio do Congresso também foi retomado; de acordo com informações, no início da noite, a Polícia Civil havia prendido em flagrante cerca 300 pessoas.
Pouco antes das 18h, Lula, que estava em Araraquara, no interior paulista, convocou a imprensa para decretar intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal até 31 de janeiro. O presidente indicou Ricardo Garcia Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça, como interventor.
“Todas as pessoas serão encontradas e punidas”, disse o presidente, que se referiu aos golpistas como fascistas. Lula também disse que vai buscar identificar quem financiou os bolsonaristas. O presidente apontou negligência da polícia do Distrito Federal, destacando o fato de PMs terem escoltado os golpistas pelas ruas de Brasília antes da invasão dos prédios dos Três Poderes. A AGU (Advocacia-Geral da União) pediu ao Supremo a prisão de Anderson Torres.
Ainda em seu pronunciamento, Lula afirmou que vai apurar também se houve omissão dentro do governo federal. E disse que Bolsonaro estimulou a invasão ao atacar de forma recorrente as instituições durante seu mandato. Obras de arte dentro dos prédios foram vandalizadas. Um quadro de Di Cavalcanti foi rasgado a facadas.
Bolsonaro está nos EUA desde o fim de dezembro. Ele viajou para a Flórida a fim de não passar a faixa para Lula, seu sucessor. Segundo o canal Globonews, o ex-presidente se reuniu com Anderson Torres nos últimos dias. O agora ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal nega, e diz que está nos EUA apenas de férias.
Bolsonaro só se manifestou sobre a destruição causada por seus apoiadores às 21h da noite de domingo, quando os prédios já haviam sido esvaziados; ele escreveu no Twitter que “manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia”, e disse que depredações e invasões “fogem à regra”.
Bolsonaristas fazem há dias convocações para atos na Esplanada dos Ministérios; o ministro da Justiça, Flávio Dino, chegou a autorizar o uso da Força Nacional, em Brasília, para auxiliar outras forças de segurança locais diante de “ameaças veiculadas contra a democracia”.
O grupo veio do entorno do Quartel-General do Exército na capital federal, onde bolsonaristas radicalizados acampam desde o segundo turno das eleições; após a primeira semana do novo governo, cerca de 100 ônibus chegaram à capital federal, levando cerca de 4.000 pessoas; circularam mensagens em grupos de conversa chamando bolsonaristas para Brasília, a fim de manter vivo a mobilização golpista, que vinha se esvaziando.
Há divergências internas no governo brasileiro sobre o que fazer com esses acampamentos, que reúnem apoiadores radicalizados do ex-presidente. Dino defendia a retirada desses grupos até sexta-feira, 6 de janeiro, já o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, dizia que as manifestações são parte da democracia e estão se desmobilizando.