Crítico das pesquisas, Martins defende impeachment de Moraes após decisão de barrar investigações
O deputado federal Paulo Martins (PL), segundo colocado nas urnas para o cargo de senador, no último dia 2, defende um processo de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
Paulo Martins afirmou que se sente prejudicado pelo resultado dos levantamentos dos institutos de pesquisas eleitorais em relação às urnas e fez duras críticas a Moraes.
Chamado de “Delegado-Geral da República’ pelo parlamentar, o ministro decidiu, nesta quinta-feira (13), barrar a instauração de inquéritos pela Polícia Federal e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), para investigar a atuação de institutos de pesquisas. Desde os resultados do primeiro turno das eleições de 2022, elas são alvo de inúmeras críticas.
“Esse cara precisa ser impichado. Ele não pode continuar sendo ministro do Supremo Tribunal Federal. Como assim, a polícia não pode investigar? Vai fechar a polícia? Há suspeita de que os institutos estão combinando resultados entre si. O Cade e a polícia estão investigando. A polícia, pra ver se há prática criminosa. E o Alexandre vai e fala não?”, avalia Martins.
Na opinião do deputado federal, Moraes cometeu ‘abusos reiterados’ em outras situações e cobra mais voz ativa do Senado. “Viola a Constituição, isso é muito ruim. Por que tem que se meter nisso agora? É papel do Senado fazer esse controle sobre o ministro do STF e o Senado não vem fazendo. Esses caras vem cometendo esses abusos pela omissão do Senado.”
Crítico das pesquisas
No dia 2, Martins recebeu 29% dos votos dos paranaense e foi derrotado nas urnas pelo senador eleito Sergio Moro (União Brasil), que teve 33% dos votos. O candidato à reeleição Alvaro Dias (Podemos) ficou em terceiro, com 23%. No entanto, os levantamentos realizados pelos institutos de pesquisa, que Martins chamou de ‘ataque à democracia’, sempre apontaram Martins em terceiro lugar na corrida eleitoral, com as primeiras posições ficando para Alvaro e Moro.
“O processo sofreu diversas distorções, as pesquisas me prejudicaram. E isso não é coisa de quem perdeu, é uma análise. Não tem como falar diferente”, afirma Martins.
O deputado federal lembra a pesquisa Ipec de véspera, divulgada pela Rede Globo, na qual Alvaro tinha 41% das intenções de votos, Moro tinha 36% e Martins 14% dos votos válidos. Nas intenções de votos totais, Martins aparecia com 13% dos votos válidos.
“Todo mundo subia 6, 7 pontos e eu subia só 1. É um erro, uma peça fraudulenta que foi produzida e que foi divulgada pela Rede Globo e isso induz a comportamentos. As pessoas estão em um processo de tomada de decisão e aí elas olham: ‘Até gosto desse candidato, mas ele não vai chegar, então vou votar para evitar o que eu gosto menos.’”, reclama
Martins conta que tinha uma percepção diferente nas suas redes sociais em relação ao que era apresentado nas pesquisas. Ele diz que chegou a receber pedidos de desculpas de eleitores após o resultado do primeiro turno. “As pessoas vinham me abraçar e pedir desculpas: ‘Pensei que você não ia chegar e votei no Moro’ ou ‘Votei no Alvaro’. Isso até me assustou. Eu não imaginava a quantidade. Para o Curitiba te abordar não é comum, para abordar e pedir desculpas, é porque é um negócio muito grande.”
O segundo colocado do pleito acredita que os resultados apresentados pelos institutos de pesquisas podem ter mudado o rumo destas eleições.
“Não quero ser leviano de dizer simplesmente que isso mudou o resultado da eleição. Mudou muitos votos. O suficiente para mudar o escolhido? É uma hipótese, até acredito nela. Mas não vou me apegar nisso. O cara ganhou a eleição, parabéns pra ele, é o senador do Paraná. O voto é irrevogável, não dá mais, ele foi dado. Agora, a gente tem que tirar lições disso. A humanidade evolui extraindo lições do que ela viveu. Não dá para os institutos de pesquisas continuarem a fazer o que fazem”, diz Martins.
De acordo com Martins, há requerimentos na Câmara dos Deputados com pedidos de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os institutos de pesquisas. E questiona: “Estão agindo em defesa de quem? É só falha de método, estão apenas obsoletos e não conseguem oferecer um produto confiável à população ou estão trabalhando a soldo, recebendo grana para distorcer e entregar resultado?”
Orçamento secreto
Outra polêmica do meio político levantada durante a entrevista foi a do chamado orçamento secreto, que vem ganhando a atenção nos últimos anos. A prática, também chamada de emenda do relator, tem objetivo de destinar dinheiro público aos projetos estabelecidos por parlamentares.
“É uma das grandes mentiras da atualidade. Secreto! É o segredo mais popular do planeta. É uma distorção, uma narrativa criada para atacar o governo Bolsonaro. Primeiro que não é uma criação do governo Bolsonaro”,afirma o deputado.
Como explica Martins, nesta prática, o governo envia uma proposta de orçamento ao Congresso, ela é discutida e são feitos ajustes, para depois então ser aprovada. “Como o governo tinha dificuldade de dialogar com Congresso, o Cngresso falou o seguinte:
‘Não confio que o governo vai cumprir as minhas indicações – que são emendas, dinheiro que o deputado indica para o município, para a comprar uma carregadeira, construir uma ponte, reformar uma escola. O Congresso estava com uma relação difícil com o governo e entendeu que era preciso que o Congresso controlasse uma parte do orçamento, sem que isso dependesse da vontade do Poder Executivo. E criaram uma modalidade de emenda, dando poder ao relator do orçamento, que acata ou propõe modificações ele mesmo. Ele está atendendo, por vezes, uma sugestão de um deputado A ou B no Paraná. Não consta o nome do deputado A ou B na indicação, aí falam que é orçamento secreto. Não é verdade, não é secreto, porque o orçamento vai estar publicado, em todos os órgãos de controle, e fiscalizado, como tudo é. Mas vai contar que é uma emenda do relator. E aí chamam isso de orçamento secreto. É uma grande fake news, uma distorção da realidade. De segredo não tem absolutamente nada.”
Segundo turno para presidente e planos para o futuro
Apoiador de Bolsonaro, o deputado Paulo Martins afirma que está focado em reeleger o presidente. “Disputei a eleição pra ser senador, porque entendi que era preciso enfrentar uma reforma constitucional e barrar abusos do STF. Essa foi minha real motivação. Não pensei em uma projeção de carreira. Não tenho uma resposta agora do que vai ser do futuro, vou passar a pensar nisso depois do dia 30.”
O parlamentar, porém, sinaliza uma possibilidade de auxiliar o governador reeleito Carlos Massa Ratinho Jr (PSD) e mesmo Bolsonaro, caso seja reeleito no dia 30, em segundo turno. “Existe possibilidades. O governador já sinalizou que gostaria que eu estivesse junto, não sei de que forma. O próprio presidente Bolsonaro. […] Sinalizações gentis dos dois líderes que me apoiaram, estadual e nacional. Realmente não planejei isso ainda.”
Ele disse ainda que nunca pensou em ser candidato a prefeito de Curitiba em 2024, considerando o capital político conquistado no estado, de quase 30% dos votos. “Nunca foi necessariamente o meu objetivo. Não estou com cabeça para fazer essa projeção, sinceramente. O segundo turno exige muito da gente, saí com um resultado da urna que não foi da obtenção do mandato, mas um respaldo popular muito grande. […] É uma obtenção de peso”, celebra o parlamentar.